O que é homologia de processos e como utilizá-la na formação para o ensino híbrido?

POR:
Rosi Rico     Publicado na “Nova Escola” em
03 de Março | 2021

Muito se tem falado do ensino híbrido como caminho para planejar aulas mais
dinâmicas e que coloquem o aluno como protagonista do processo de
aprendizagem. Como todo conceito novo, as dúvidas se multiplicam e a maioria
dos professores está tentando entender o que são os modelos híbridos e como os
colocar em prática. Para colaborar neste processo, os coordenadores pedagógicos
têm papel fundamental, uma vez que conduzem as formações continuadas dentro
das escolas e podem, portanto, colocar o assunto em pauta. Mas, como fazer
isso?

Um caminho possível é a homologia de processos, termo cunhado pelo pedagogo
estadunidense Donald Schön, que propõe aproximar a formação vivida pelos
docentes à forma com que eles vão trabalhar com os estudantes em sala. “Schön
defende a ideia de que é necessário que o professor vivencie, durante o processo
de formação, atitudes, valores, procedimentos e modos de organização que, de
alguma maneira, reflitam na sua prática pedagógica”, explica Lucinha
Magalhães, especialista em coordenação pedagógica e gestão educacional e
escolar da Comunidade Educativa CEDAC. 
A proposta é, ao atuar com os professores, o gestor utilize algumas estratégias
que ele pretende que sejam incorporadas ao fazer do docente. Assim, além de
apostar no aprimoramento da experiência prática, a formação ganha em
coerência. “É para pensarmos: se desejamos que crianças, adolescentes e jovens
sejam protagonistas da aprendizagem e tenham um papel ativo na construção do
conhecimento, é importante que a gente assegure também esse lugar para os
professores”, afirma Lucinha. “Ao ocupar esse lugar de sujeito da própria
formação, a chance dele estar atento para as metodologias e para o protagonismo
de seus alunos é maior”, completa.
A homologia de processos e o ensino híbrido
O ensino híbrido é composto por atividades presenciais e on-line integradas, no
qual os recursos digitais são utilizados para coletar dados e informações que
serão analisadas pelo professor com o objetivo de personalizar o processo de
aprendizagem – para saber mais confira a Trilha de Ensino Híbrido. A
homologia de processos entra como uma estratégia para apresentar as principais
características dos modelos híbridos e como eles podem aparecer na prática
docente. Dessa forma, a tendência é ficar mais fácil para a equipe docente
compreender e adotar as ideias.
Um ponto central para aproximar a equipe docente do tema é o coordenador
organizar a rotina formativa também de maneira híbrida, prevendo momentos
formativos presenciais (se possível e com todos os protocolos de biossegurança)
e outros virtuais – com atenção especial à integração entre eles, uma vez que essa
é uma das principais características do ensino híbrido. Ele deve também
compartilhar o planejamento: quais os critérios que utilizou para agrupar os
professores, como ele fez a gestão do tempo, como definiu o foco, etc. “O
professor verá todos os cuidados que o coordenador teve na preparação e na
condução desses momentos”, comenta Lucinha.
A experiência na prática
Na Escola Municipal Walmir de Freitas Monteiro, em Volta Redonda (RJ), a
formação para o ensino híbrido começou em 2019 de forma presencial. A escolha
inicial foi por estudar o modelo de sala de aula invertida. Dentro dessa estratégia,
o aluno tem o contato inicial com conteúdo em casa por meio de materiais
enviados pelo professor, em sala, ele tira dúvidas e faz atividades para aplicar o
conhecimento. Para apresentar para os professores, a lógica é a mesma.

O objetivo da formação na escola era de aproximar os educadores da prática e
planejamento de atividades no modelo da sala de aula invertida, e refletir sobre
como utilizar recursos digitais nas aulas.
Para começar, as supervisoras educacionais enviaram materiais de referência para
a equipe docente – como textos teóricos e vídeos de escolas que aplicam o ensino
híbrido, por exemplo – e pediram para todos prepararem sugestões sobre como
colocar em prática os modelos. 
Nas reuniões pedagógicas semanais, foram agrupados educadores de
componentes curriculares diferentes, mas que atuam no mesmo ano. Nesse
momento, eles deveriam discutir, trocar, analisar e avançar na elaboração de
propostas. “Esse tipo de grupo permite que, além do professor não trabalhar
sozinho, sejam criadas propostas interdisciplinares”, conta Regina Coeli,
supervisora educacional da escola. Para esses momentos, a sugestão de Lucinha é
o gestor pensar previamente nas dificuldades dos educadores e nas intervenções
que ele pode fazer. “Da mesma maneira que o docente precisa pensar no aluno
para o planejamento em sala”, explica.

Para dar continuidade à formação, as gestoras da escola Walmir de Freitas
Monteiro utilizaram ferramentas digitais de trabalho colaborativo para registrar e
complementar o que foi trabalhado durante o encontro. “Vamos construindo os
documentos em parceria”, completa Patrícia Costa, também supervisora da
instituição.
Elas contam que a proposta formativa tem sido bem aceita pela equipe docente.
“Eles se preparam antes e, no dia dos encontros, trazem perguntas, apresentam
sugestões e participam das atividades”, afirma Regina. “A maioria se envolve
tanto que aqueles mais resistentes acabam sendo envolvidos pelos outros e não
têm alternativa a não ser participar também”, comenta
A importância de analisar a própria prática
Para complementar a estratégia de homologia de processos, é essencial
o gestor criar oportunidades para os docentes desenvolverem a
capacidade de entender e avaliar o conhecimento construído. “O
coordenador precisa desenhar situações em que, intencionalmente, os
professores possam investigar, problematizar, discutir e refletir a prática
pedagógica. Assim, eles também estarão mais atentos à maneira como
seus alunos aprendem e poderão pensar em como coloca-los para
refletir o próprio fazer”, explica Lucinha. Na prática, o objetivo é fazer das
situações de formação um espaço de compartilhamento e troca, em que
se explicitem os desafios. “Os erros devem ser vistos como caminho

necessário para o avanço da compreensão da própria prática”, diz
Lucinha.
O resultado na aprendizagem dos alunos ainda será avaliado. Em 2020, as
gestoras planejavam avançar nos estudos sobre ensino híbrido, mas veio a
pandemia. “Estávamos no processo de entender outros modelos, como o de
rotação por estações. Mas tivemos de restringir as estratégias utilizadas nas aulas
porque o presencial era essencial para ela ser mais eficaz”, explica Regina.
“Quando fomos para as aulas remotas foi necessário relembrar o que havíamos
estudado para pensarmos em como adaptar as estratégias para o contexto só on-
line”, complementa Patrícia.
De qualquer maneira, elas comemoram o aprendizado dos educadores em relação
ao uso de tecnologia. “A gente estava propondo mudanças, tentando incorporar
os recursos digitais aos poucos. Com as aulas remotas, isso foi mais rápido do
que pensávamos”, diz Regina. “Agora é avançar. Não podemos voltar a ser como
era, por isso precisamos continuar estudando e buscando ressignificar a prática
pedagógica”, afirma Patrícia.
Um desafio no horizonte das gestoras, além de dar continuidade ao estudo sobre
os modelos, é repensar como ficam as avaliações dentro do ensino híbrido e
como ter uma avaliação coerente que valorize o processo do aluno. “Todo o
processo avaliativo precisa ser repensado. Como dou uma aula dinâmica, faço
planos com sala de aula invertida, trabalho com jogos e depois realizo uma
avaliação tradicional?”, questiona Regina.
Mais uma vez, a estratégia pode ser utilizar a homologia de processos. A gestão
pode, por exemplo, construir coletivamente, durante os encontros formativos,
rubricas para avaliar o trabalho do professor e, assim, mostrar a eles como
funciona este tipo de instrumento e quais são as vantagens dele, como permitir
estabelecer critérios claros de avaliação e níveis de gradação de desempenho.
“Começamos a fazer isto, mas foi preciso parar o processo por conta da
pandemia”, relembra Patrícia.
Dicas para preparar a formação

Para ajudar coordenadores pedagógicos, ou supervisores educacionais, reunimos
algumas sugestões de Lucinha Magalhães, do CEDAC, e Sonia Guaraldo,
consultora pedagógica e especialista em formação continuada. São pontos que
devem ser considerados na elaboração de projetos formativos seguindo a lógica
de homologia de processos.

  • Faça um estudo prévio sobre ensino híbrido para elaborar as formações e poder
    oferecer caminhos e propor estratégias. Mas, lembre-se que o coordenador não

precisa saber tudo para dar início ao processo formativo. Você pode deixar claro
para a equipe docente que também está aprendendo;

  • Explique o processo formativo para os professores, identifique o que eles já
    sabem sobre ensino híbrido – quais pontos são mais sensíveis e geram mais
    dúvidas? – e construa a pauta com base nas necessidades da equipe;
  • Assegure coerência entre objetivos e estratégias utilizadas. A escolha da
    estratégia formativa é sempre intencional;
  • Se a opção for seguir a dinâmica de sala de aula invertida, planeje para que os
    conteúdos teóricos ou expositivos sejam assimilados de maneira independente
    pelos professores. Assim, eles vivenciam questões importantes para o ensino
    híbrido, como autonomia por meio do controle de tempo, lugar e ritmo;
  • Organize os momentos de orientação ou de instruções de forma on-line.
    Certifique-se de haver uma integração coerente entre as atividades propostas para
    os momentos presenciais e aqueles em casa;
  • Reserve os momentos presenciais para a aprendizagem ativa: promova
    discussões ou atividades de desenvolvimento de sequências didática ou projetos,
    por exemplo;
  • É essencial promover reflexões sobre a vivência do grupo e as aprendizagens,
    não só do conteúdo elaborado coletivamente, mas também da maneira como
    ocorreu a formação. Sistematize e compartilhe os aprendizados;
  • Acompanhe a análise das experiências vividas em sala de aula. Avalie esses
    resultados e compartilhe com a equipe docente.
  • Planeje os próximos passos da formação e valide com os professores – ou
    proponha uma construção conjunta.  
  • Registre o processo e os aprendizados seus e de sua equipe. Assim, você vai
    construindo o histórico da escola, que pode ser consultado e avaliado
    periodicamente.
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